Inerte, olhos fixos na paisagem, especie de transe
ao redor pedras lapidadas, arvores e flores,
um incenso produzindo um cheiro doce
e a fumaça alimentando os meus pulmões
Os meus pensamentos me confundiam
o silêncio quebrado por vozes, algum tipo de mantra era cantarolado
Os animais em total sincronia, formando uma melodia surreal
As cores de cada espaço, de cada ser vibravam
através da pouca luz que surgia entre os galhos
Minha vontade era que aquele momento se eternizasse
nesse precioso lugar provido de calma, de paz
um céu nublado carregado de nuvens cinzas
anunciava a chegada da tão esperada chuva
Já não existia inercia, meu corpo dançava
formando uma coreografia, sem ensaios, sem regras
dançando livre, seguindo o vento,
formando nas labaredas de Dezihe um magico espiral
Os tambores tomaram o lugar do mantra,
varias palavras eram pronunciadas em forma de agradecimento
os primeiro pingos dagua tocavam a minha pele quente
e logo em seguida era tão forte que lavava minha alma.
Então foi quando deitei-me na terra
e como quem abraça uma mãe eu á abracei
e chorei de felicidade, eramos uma,
eu a sentia pulsar, como se estivesse doado meu coração a ela.
Adormeci ali e voltei a inercia
quando acordei não havia vestígios de ninguém.
Me senti enraiar, aquecida pelo sol no céu azul de nuvens brancas
Tomada por uma felicidade sem fim, caminhei em direção ao nada,
mas sabia que dentro de mim havia uma imensidão.
Relatos de um ritual Shaman. Vale do Capão- Chapada Diamantina-Ba (Zana Martins)